9 de abr. de 2014

Fragilidades do ensino





Olá querida colega, aluna, parceira de estudos e blogs! É sempre um prazer estar aqui, um lugar onde me sinto em casa e complemento minha missão...hoje vou falar sobre mais alguns assuntos polêmicos, delicados e necessários, bem como eu gosto!
E defini o tema nas minhas auto análises enquanto sorvia um café perfeitamente amargo, amargo e bom como um bom desabafo. Trata-se da longa espera pela adaptaçao ao dia da semana para inicio de aulas regulares em cidades não muito visadas. É uma longa espera...
Quem pretende um dia dar aulas e se embrenhar na floresta das danças pode sentir logo nos primeiros suspiros uma preocupação, um arrependimento ou um medo por estar num terreno tão instável, uma hora dá e de repente para tudo. Ao ensinar a dança , contemplamos nossa própria imagem com um certo idealismo, assumindo uma posição concentrada em dar exemplo, de perfeição, constância, equilíbrio e paciência. Nos tornamos verdadeiras damas pelo ensino, pelo amor e pela vontade de compartilhar tantos benesses! Mas sinceramente há algumas pedras na sapatilha que não costumamos mostrar e creio que seja indispensável se ter uma orientação sobre os ossos desse ofício.
Pra quem ja caminha nesta estrada há alguns anos sabe o quão recompensador ela é, no sentido pessoal mais que material, que na verdade nos mantém firmes no propósito. Antes de qualquer coisa, a bailarina é uma mulher de fé. A esperança justifica e sobrepõe ao desgaste, ainda com alegria, e a bailarina, sobrevivente, enxuga com orgulho a lágrima do martírio.
Poética pra não ser trágica. Por que financeiramente é uma tragédia, pelo menos para a maior parte; a dança não se sustenta sozinha sem uma grande aposta ou outros subsídios. Há quem esteja sobre o navio, distribuindo uns botes.
A realidade desta cena é brasileira, fora das capitais e cidades-satélites. Normal. No Brasil. A arte.
Como profissionais, o tato, a polidez e a conduta impecável nos impede de sucumbirmos em nossas fraquezas, pois somos exemplos de um idealismo feminino que representa uma arte, inserida num contexto ainda bem seleto.
Agora mais abertamente e preparada lhes digo a verdade que vejo: é um árduo caminho, uma persistência absurda ensinar dança, pois é muito prazerosa ao mesmo tempo que instável. É nadar contra a correnteza sorrindo, é um filho rebelde mas que não deixamos sair de casa. Paixão e covardia, apanhemos felizes.
Acho importante que as aspirantes leiam, principalmente as que sonham fazer aula, saibam que assim como dançar é alegria, a bailarina sofre de esperança. Vai ter show? Vai sair aquela turma? Vai ter cachê? Quanto é o curso? Quantos convites vender? E são só algumas das questões usuais.
Sofremos por competirmos o tempo todo com outras atividades, por tentar ajustar-se ao tempo de todas as pretendentes a fazer aula, se acertam os dias e quando está definido em poucos minutos já aparecem contratempos. Não é culpa de ninguém, mas isso com certeza abala a motivação de todas. Várias vezes acabei cancelando na última hora pra não abrir turmas sem o mínimo viável de alunas, pois em aulas regulares há necessidade de um número maior do que nos cursos.
Gostaria de justificar minha decisão de não tentar formar mais turmas regulares tão cedo, para que justamente não nos sintamos pesarosas ou esperançosas inutilmente, vendo que não fecham nossas datas. Caso realmente decidam por aprender, não esperando um alinhamento entre todas as interessadas, peço que me procurem para aulas particulares e cursos pois há flexibilidade para isso, pelo menos ficarei no compromisso de esperar uma pessoa certinho ou uma situação mais definida.
Isso também, meninas, por que me recuso ainda a sair de cidade pequena, eis o maior motivo, pois não posso mais assumir viagens semanais fora do meu habitat. Ocasionalmente sim, é mais rentável e estimulante. Esta decisão de não formar mais turmas é exclusivamente pessoal, sem atribuir culpas a ninguém. Espero que me compreendam... Mas a gente se adapta e se disponibiliza de forma a nunca abandonar totalmente o que mais nos alegra o coração! Um enorme beijo a todas.

Um comentário:

Luísa Ruas disse...

Eu já parei de dar aula (além de todos os percalços por ti citados, sofri uma lesão), mas te digo: és por mim completamente compreendida. Como aluna e ex-professora, respeito, admiro e agradeço às pessoas que se dedicam a ensinar esta arte, principalmente quando o fazem com ética, autenticidade e sem se acomodar - considero que é o teu caso. Portanto, obrigada. Já te vi dançar pessoalmente uma vez e adorei. Um beijão.