25 de nov. de 2013

O avesso

Neste drama diário em que me encontro, percebo o quanto este problema é desafiador para quem quer levar uma vida normal. As pessoas não estão acostumadas e nem preparadas para enfrentar uma visão aterradora. Percebo que por esta questão todas as pessoas que tem um problema em especial que afetam seu senso estético, se vêem sob uma condenação inconsciente que se relaciona ao constrangimento. Eu não levo uma vida tão normal assim no momento, pois não posso mais sair dando risada abertamente sem constranger as pessoas (realmente é muito feio); porém ao mesmo tempo noto que talvez essa liberdade pudesse ser maior caso as pessoas não dependessem tanto da superficialidade para se relacionarem. Imaginem que pra mim, que sou uma pessoa que trabalha diretamente com a estética e a arte (visando realçar o belo) e que tem (acredito eu) um senso apurado nesse aspecto, como estaria exercendo minhas atividades normais. Bom, elas simplesmente não estão acontecendo e acabei por me encontrar numa outra forma também artística para me motivar, porém de forma que meu rosto não influencie e não crie contato com o consumidor final.
Essa história de constrangimento é bastante complicada. Pois tanto eu como as pessoas que trabalham comigo estão aguardando que esta paralisia seja uma condição temporária, o que cria uma certa cautela sobre a exposição da minha imagem  para que se evite constrangimentos desnecessários neste período de recuperação. Agora a pergunta é: e se os danos não fossem provisórios?
Como seria se eu, minha família e meus amigos e colegas tivéssemos que conviver com a notícia de que minha cara não voltaria mais ao normal? Nunca mais poderia exercer minhas principais funções como bailarina e profissional da beleza. Afinal para ambas, há necessidade social de estar pelo menos em condições físicas e expressivas adequadas...
Mesmo que eu conseguisse obter dinheiro de outra maneira, onde eu projetaria minha felicidade?
Tento compreender a vida e seus sinais...a maioria das pessoas prefere fechar os olhos para a compreensão daquilo que é incomum ou limitador e deixa para pensar somente quando a elas acontece algo que a tire da matrix. É como a morte: mesmo sabendo que ela é o único fim para todos, ninguém gosta de pensar sobre este momento, tão único quanto o nascimento. Negamos sua sombra mesmo sabendo que o amanhã pode não existir. 
Calma, não sou suicida, hehehe...apenas realista, imersa numa história na qual tento arrancar um sentido e um proveito. Talvez eu seja oportunista mesmo, mas não vejo isso como algo negativo: é uma maneira maravilhosa de saber desfrutar positivamente de todos os acontecimentos da vida, sejam eles transitórios ou não. Dá leveza e disposição!

Ser normal é a melhor coisa do mundo. Agora resta saber como fazer a coisa funcionar quando esta verdade não está mais no nosso alcance.
  É o momento de saber quem eu sou de verdade e para que estou aqui. E espero que refletindo essas questões, você possa valorizar seus momentos de saúde, compreender melhor as pessoas da sua família, compreender o quanto um sorriso seu é importante, principalmente ao cumprimentar e se despedir de alguém.  A gente pensa que é só para os outros, como se fosse uma obrigação social...Ele é muito importante pra você. É um dos momentos mais difíceis do dia...não é fácil ser blasé, eu repito! Quem não sorri, por opção, mesmo gozando de perfeita saúde, é mesmo uma pessoa infeliz pra cecete!

Tirem-me o rosto, raspem minha cabeça, tolham-me o movimento das pernas...eu ainda estarei aqui sorrindo e vou matar a pau naquilo que eu resolver fazer, enquanto houver escolha. Por que eu não nasci pra dizer ok para o que quiser me parar. Bora!


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