4 de dez. de 2012

Dança do ventre, sensualidade e vulgaridade 2 (continuação)





Continuando o texto anterior (por favor não deixem de ler o primeiro para sua melhor compreensão), resumo brevemente que falava de caracteres da dança genuinamente egípcia.
O que você percebe vendo estes exemplos nos vídeos? Por acaso há alguém ali tímido, receoso ou cheio de pudores? Com certeza isso não será encontrado, nem mesmo se fosse dança báladi, sem apelos e considerada uma conexão "patriótica" da música com a bailarina.

A sensualidade, de forma saudável, faz-se necessária. Esse tempero mais abusado que vemos nos egípcios pode ser reconhecido como uma elevada segurança e auto-estima, mais do que isso, verdadeira paixão e admiração por si mesmo e que conseguem demonstrar para nós, contagiando-nos.
Eu só consigo ver isso nos egípcios. Cada um do seu jeitinho. Uma interpretação única e muito pessoal.
O que se pode ver além de alegria, personalidade, meiguice e forte identidade é uma perfeita falta de vergonha de ser quem é, e nenhum deles está nem aí, se alguém os imagina entre quatro paredes ou não (eles sugerem  bom desempenho, rsrsrs). Talvez  na dança com mais "sex-appeal",haja intencionalidades, porém este não é normalmente o objetivo  e nem ao assistir. Realmente não me interessa julgar isso através da dança, mas entendemos integralmente o quanto bailarinos são mais ou menos"sexy".

Eles realizam um trabalho com a dança onde não há ênfase para a sedução individual, direta: ela se distribui coletivamente. Criam um vínculo mútuo de atenção e conseguem manter-se harmônicos, numa troca contínua e atingem uma boa interação (rapport, na psicologia) e oferecem à nossa visão aquilo que queremos/gostamos ver. Não desperdiçam seu charme com conversa fiada e mandam ver, encantando e ao mesmo tempo, mantendo uma relativa distância (artista - platéia), chamando nossa atenção por seu imenso carisma. Maravilhosos desavergonhados! Tudo no bom sentido.

O charme está na conquista. Como transformar sua dança numa verdadeira conquista? Como você faz, quando está apaixonado ou flertando, quando quer uma resposta positiva? Se sair agredindo, nem sempre leva e se embromar demais, cansa.
Então se o negócio é ir pelas beiradinhas: faça sua dança assim, e observe. Use seus instintos e seus sentidos! Aproveite as ferramentas que possui, não só aquilo que você vê em aula ou em vídeo. Tente ir além, pois você é quem se conhece e transmitir um pouquinho dessa intimidade autentica é que faz a diferença.

Em contrapartida, desequilíbrios são, de certa forma, essenciais para conseguirmos alcançar um meio termo. A fase do estrelismo, por exemplo, nos coloca numa ansiedade muito forte, num ímpeto de querermos mostrar o máximo de tudo que sabemos, revelamos uma avalanche de informações que às vezes intimida, quando não agride. Ainda não temos o senso do harmônico, e abalar se torna uma obstinação.
A vulgaridade está numa linha tênue com a sensualidade e esse é um momento perigoso, acaba-se por acelerar o tempo de maturação das coisas em função do desejo de ser notável. E não se julgue por se sentir nesta ansiedade um dia, pois isso é muito natural nesta dança, que lida tanto com nosso eu feminino e vaidoso. O importante é ter alguém que ajude a reconhecer este momento impetuoso, para ter uma boa passagem nesta fase, sem "torras de filme" ou desvalorização profissional. Não desmereça possíveis críticas, nada é por acaso.

Do contrário, a fase "querida" é muito boa e educativa, mas acredito que não deve durar para sempre, pois acabaria mais como máscara do que como realidade.  A vida nos exige mais atitude e personalidade com o passar do tempo e a cada ciclo de dança (pois paramos às vezes e recomeçamos) percebemos o quanto de nós fica e o quanto precisamos mudar. Muitas vezes esta mudança é como a que se sofre num relacionamento de longos anos, quando principalmente a "esposa ideal" descobre que se não tivesse sido tão perfeita e conivente é que seria, de fato, ideal. O casamento com a dança não é diferente.
E na busca de uma identidade e do carisma, encontramos aquela a quem calamos, seja ela a bruxa, a mártir, a donzela, a fada ou a amante sensual. Tudo é uma questão de oportunidade e autoconhecimento. Na verdade precisamos de todas! Qual seu momento, então? Qual delas precisa despertar?

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei!
Já tive a fase de fada, sabe... mas depois que comecei a estudar a Nagwa Fouad (olha eu falando dela de novo! É que rolou uma química retada! Rs!), estou me permitindo mais essa coisa safadinha... lógico, dentro do meu jeito meio brejeiro, mas, porque não?
O público espera isso da gente: ser sensual. Pq não mostrar um pouco à galera o que a galera quer ver? Sem hipocrisia, né? Nenhum artista sobrevive sem público.